sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Devaneios XXIII - Efemeridade


Acredito na efemeridade da vida como nos seres que vivem dela. Se calhar, por não sermos totalmente efémeros, não encaramos a vida com a importância que lhe pertence. Sabemos sempre que irá existir um amanhã pois está marcado no calendário. Sabemos que a seguir a um dia lhe sucede sempre outro. Que depois das horas, vêm sempre os minutos e de seguida os segundos. Mas será que esse amanhã chegará mesmo? Como dizia a outra "a qualquer momento pode-nos cair um piano em cima ao passar na rua. Não sabias que ainda existem pessoas que atiram pianos pela janela?" E às vezes chegam mesmo a atirá-los da janela mais alta. E, nesse momento, podes crer, tornamo-nos efémeros. Não porque o somos na realidade, já que estamos programados para viver durante anos, mas porque os outros ditam a efemeridade do nosso ser. Todos os dias o somos, apesar de não nos darmos conta. Ou se calhar até damos, mas na verdade não nos convém acreditar nisso. Apesar de tudo, quero acreditar que na vida pode existir outro tipo de efemeridade. Aquela que dita o meu dia como o último da minha existência. Poder acreditar que se pode respirar, sentir, olhar, temer, escolher, ganhar, perder, amar, desiludir, sorrir, chorar, zangar, gritar, tudo num só dia. E, no final, no encontro do meu leito de lençóis, simplesmente morrer, quando a noite se aproximar. Ressuscitando, como fénix renascida no dia seguinte. Ser um novo ser e crescer segundo um conjunto de reencarnações de dias passados.

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