terça-feira, 29 de setembro de 2009

Segundo Tiago Bettencourt

Ao vaguear pelos diversos monólogos de Tiago Bettencourt (que eu simplesmente adoro), deparei-me com um que gostei em particular... este falava da sensação de gravar um disco... o texto é simplesmente genial... aqui fica:

"Estão todos às voltas na minha cabeça como vozes difusas a pedir espaço, a pedir prioridade. Cordas sopros coros teclas… sons por todo o lado, mil caminhos, escolher só um, limpar limpar limpar, chegar ao principio outra vez. Cortar partes, letras, excessos, coisas a mais. Deixar partes, letras, excessos, domar as coisas a mais. O “conceito” e a “verdade” caminhando juntos, nunca se sobrepondo, nunca se anulando. A leveza que se quer é tão fácil com tão pouco….mas há que redescobrir cada passo. O que está feito passou. não quero repetir. Não é altura de repetir, ainda. Sei das formulas e uso-as também, mas desdobradas, desordenadas, ambiciosas. Não é necessário berrar para ser grande, não é preciso inventarmos personagens exuberantes para sermos diferentes (Alguém sabe disto em Portugal? sim… é outro assunto…). Preciso só de silêncio, honestidade e humor para começar. Preciso de alguém solto para ver de fora. Preciso que o meu corpo como filtro se comova com o caminho certo.
Gravar um álbum está a tornar-se nesta altura uma experiência um tanto ou quanto inquietante. Entre a genialidade e a mediocridade anda a inspiração. Entre a genialidade e a mediocridade há um espaço muito pequeno. Esta duvida constante faz obviamente parte do processo criativo e se o lado comercial não se puser ao barulho, é completamente indiferente no percurso. A ideia é mais ou menos essa. Ignorar a parte racional do que é, afinal, gravar mais um disco de originais. Já todos fomos mais inocentes, mas também mais fracos. Nesta altura são claros os nervos que queremos estimular, em nós, e em quem nos ouve. Aquilo que nos toca, que nos acorda. Está a nascer um novo disco. Está na minha cabeça em peças separadas. A melhor parte de ir para estúdio, e isto fui aprendendo com a experiência, é a desconstrução das ideias concretas que depois de dois ou três meses de ensaios achamos inabaláveis. Em poucos minutos o rumo de tudo pode mudar.
Sei que o álbum não vai ser o retrato que tenho, porque se tudo correr bem, vai ser melhor." (por Tiago Bettencourt)

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