sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço. Não disto nem daquilo, nem sequer de tudo ou de nada: cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço. A subtileza das sensações inúteis, as paixões violentas por coisa nenhuma, os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas. Essas e o que faz falta nelas eternamente; tudo isso faz um cansaço, este cansaço, cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, há sem dúvida quem deseje o impossível, há sem dúvida quem não queira nada. Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: porque eu amo infinitamente o finito, porque eu desejo impossivelmente o possível, porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser...E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, para eles o sonho sonhado ou vivido, para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, e, ah com que felicidade infecundo, cansaço, um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, cansaço... (Álvaro de Campos)

Sem comentários:

Enviar um comentário