...como gosto destas noites... de ter o poder de divagar sem me preocupar com o tempo... de deixar a imaginação se soltar, sem ter que escolher palavras ou frases... de não ter que pensar se o texto vai ficar bonito, se o irão entender ou não... mas sim escrever e escrever... sem nexo... sem razão nenhuma para tal... pois, o facto de me sentir tão bem, aqui no meu canto, no escuro do meu quarto, faz com que não consiga parar de escrever... pois o tempo é só meu... a noite é só minha... e por mais que a lua brilhe lá no alto, vou sempre preferir a luz do meu recanto... dos pensamentos sem lógica... e sinto-me bem assim... de, por uma vez na vida estar a escrever de tudo e de coisa nenhuma... de me sentir livre e, ao mesmo tempo, estar presa a esta necessidade de escrever sobre tudo e sobre nada... por saber, que apesar de não haver lógica em tudo o que disse, haverá sempre alguém que estará do outro lado a ler sobre mim, sobre os meus devaneios, como se eu própria estivesse ali à sua frente... a examinar-me... como se estivesse no fundo do canto de uma sala, lá ao longe, a olhar para mim... e ali permanece... sem me dizer uma única palavra... e, mesmo com um sorriso partilhado, o seu olhar permanece em mim... sem palavras... sem sons... sem qualquer expressão de manifesto sobre algum sentimento... e eu espero por essas palavras... eu quero, eu preciso, eu tenho de ouvir tais palavras... eu tenho de sentir o som de uma voz... preciso que essa voz se aproxime de mim e que não se mantenha lá ao longe distante... mas o silêncio continua... continua... continua... continua... até não existirem mais palavras, até não existirem mais pensamentos... até não existir um eu... e ali vou permanecer à espera... toca uma badalada... e espero... tocam duas badaladas... e espero.. tocam três badaladas... e espero... ao fim das quatro badaladas... não ouço nenhum som... não leio nenhuma palavra... se calhar porque não estás aí... se calhar porque o brilho da lua conseguiu ser maior que o brilho do meu recanto... tento permanecer acordada... mas não resisto... e fico encostada à almofada, sentindo o meu corpo cansado a ser percorrido por um sono profundo... até não ouvir mais nada, até não escrever mais nenhuma palavra..... e adormecer....
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